15 de março de 2013

João Ricardo Pedro - O teu rosto será o último



A desconstrução, tão cara à literatura contemporânea, é aqui manejada com mestria para compor uma história que abarca uma boa parte do séc.XX e onde se incluem memórias (não vividas pelo autor) da guerra colonial e do 25 de Abril. O encadeamento dos temas, o retrato das personagens, os avanços e recuos no tempo, a forma como os "mistérios" se vão, ou não, resolvendo, são verdadeiramente admiráveis. E ainda mais, tratando-se de 1ºromance. Talvez o que mais me tenha impressionado seja a tristeza infinita que atravessa toda a obra, resultante da tomada de consciência de memórias passadas que uns aceitam pacificamente e de que outros não se libertam. E tudo sem agressividade, com muita serenidade, diria até doçura. Perturbante, também, é o horror que nos é servido em pequenas e sucessivas doses, num crescendo que incomoda. Há aqui uma quase obsessão por sangue, pés e mãos feridas, amputações...O autor dá enorme importância aos pormenores mais ínfimos, aliás indispensáveis para uma boa compreensão do conteúdo. Mas revela, sobretudo, uma enorme sensibilidade.

Maria Luzia Pacheco (Grupo de Leitores da Biblioteca Municipal de Oeiras)

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