No dia 5 de
Fevereiro à volta do livro “ Cinerama Peruana” convidámos o escritor Rodrigo
Magalhães para aquela que seria a última conversa com um autor candidato a
vencedor da selecção portuguesa dos Grupos de Leitores de Oeiras para a 27ª
edição do Festival du Premier Roman( em Chambéry, de 23 a 26 de Maio).
Nesta sessão
no Palácio Ribamar, também Biblioteca de Algés, ficámos a conhecer o autor na
sombra da narrativa que foi clarificada por José Riço Direitinho como contendo
personagens a responderem ao “canto da sedução do mal”. Esta expressão pode
também ser entendida como o apelo sentido da obra.
“Cinerama
Peruana” foi o título encontrado pelo editor Francisco José Viegas. Se por um
lado cinerama é “um processo cinematográfico sobre a tela que utiliza a
justaposição de três imagens provenientes de três projectores”, por outro a
imagem literária ou história mais marcante passa-se também em Lima no Perú e
desta forma enquadra-se o título.
Rodrigo
Magalhães apresenta-se claramente como um autor que surgiu dos muitos livros
que leu e de uma espécie de ideário próprio que depois lhe tece as linhas com
que vai criando uma narrativa.
Sobre este
autor, José Mário Silva, crítico literário, escreveu acerca das primeiras obras
de autores portugueses nos últimos tempos «entre tamanha oferta não faltam
tiros de pólvora seca a maioria nem exemplos de verdadeiro talento. Mais raro é
encontrar um romancista que já domine plenamente o seu mister um estreante que
a cada frase nos faça duvidar desse estatuto de experiência narrativa.
Aconteceu com Benoni de Alexandre Andrade (Editorial Notícias
1997). Aconteceu com Um Homem Klaus Klump
de Gonçalo M. Tavares (Caminho em
2003). Aconteceu poucas vezes na última década. Volta a acontecer agora com Cinerama Peruana de Rodrigo Magalhães».
Nesta
estreia literária duas ideias singulares atravessam-na; a de aprendizagem e de
tutelagem do mestre que acaba de ser ultrapassado pelos alunos e também outra,
a de se “levarem a cabo acções pouco nobres, por razões fúteis na realidade.”
Se o ênfase é dado à inutilidade através do exercício da violência, o que significa
que alguém se pode erguer ou acreditar que o faz acima da sua inutilidade o que
para as personagens é maleficamente sedutor.
Se na
apresentação do seu livro foi referida uma certa contenção no dizer das coisas,
parece antes que existe antes uma contenção nas ideias certas.
Escreve neste momento uma segunda obra
que assegura será muita distinta da primeira.
“Se idealmente o livro deve responder a
todas as perguntas”, deixo uma passagem literária lida no fim do encontro:
«... Deram três concertos e ajudaram o
pai a escolher poemas para uma antologia sobre o mês de Fevereiro, uma bela
homenagem fora de mercado à sua mãe, nascida em Fevereiro e mãe em Fevereiro, e
ela escolheu "In the waiting room" de Elizabeth Bishop, ele não
escolheu nenhum mas pouco importou pois o pai tinha já poemas em número suficiente
e precisava apenas de mais um, um apêndice na eventualidade de um ano bissexto,
e a escolha dela foi encarada como justa e portanto aceitável e ele não teve
dificuldade em dar-lhe o devido mérito. Acabaram por partilhá-lo, como
partilharam a voz, as guitarras e a silhueta nervosa vestida de preto durante
os concertos que deram...»(p.73).
Terminam aqui as sessões com os autores
participantes na pré-seleccção do Festival do Primeiro Romance de 2014.
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